Desmistificar o papel dos agentes no mercado de mobilidade elétrica

Desmistificar o papel dos agentes no mercado de mobilidade elétrica

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A discussão sobre os prós e contras da regulamentação portuguesa para a mobilidade elétrica está repleta de acrónimos associados a vários agentes no mercado da mobilidade elétrica, o que torna difícil a participação da generalidade da população. Adicionalmente, o mercado português é regulado de uma forma especial que dificulta a comparação com os congéneres estrangeiros. Por isso esclarecemos as diferenças entre mercados nas responsabilidades de cada agente. Nesta publicação descrevemos o papel do OPC, CEME e EGME, entre outros.

Agentes de Mercado

Enumeramos de seguida alguns agentes de mercado relevantes para efetuar serviços de carregamentos na mobilidade elétrica. Tentamos sempre que possível dar como exemplos empresas que se focam apenas num segmento de mercado (pure-plays) em vez de acumular vários papéis.

  • OPC - Operador de Posto de Carregamento. Em Portugal, um OPC aluga o seu equipamento para o carregamento de veículos e partilha os consumos com a EGME (MobiE) para poderem ser posteriormente faturados pelo CEME. Desta forma, a gestão de fluxos energéticos (de forma simplificada, a contagem de energia consumida pelo posto) e financeiros (a faturação dos consumos) é gerida pela EGME. O operador não revende energia. Nos restantes países, um OPC compra energia a um comercializador como qualquer outro consumidor, gere os fluxos energéticos e financeiros, e fatura a energia consumida diretamente ao cliente.
    Exemplo: PowerDot, Ionity, Tesla, Continente.
  • PAN - Ponto de Acesso Nacional. Este agente foi introduzido pelo AFIR e é responsável por centralizar os dados estáticos (informação do posto tal como potência e tipo de tomadas) e dinâmicos (estado atual do posto). Esta informação é disponibilizada então aos utilizadores para saberem o que podem esperar da rede pública de carregamento. Este papel já existe no regulamento português, e é uma das responsabilidades da EGME. Nos restantes países, é um espaço ocupado por instituições públicas e/ou entidades privadas tal como a Eco-Movement, dado o valor criado por estes dados.
    Exemplo: MobiE (excluindo a sua plataforma de e-roaming).
  • EGME - Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica. Este agente criado pelo regulamento português inclui vários papéis dos quais se destacam: PAN, gestor de fluxos energéticos e financeiros na rede de carregamento, e agente de e-roaming entre OPCs. Permite que a energia entregue num posto seja contabilizada a diferentes fornecedores de energia (CEMEs), dado que transmite os consumos das sessões de carregamento aos CEMEs para que possam faturar a energia aos seus clientes. Como agente de e-roaming, garante uma solução para que um único cartão seja válido em qualquer posto na rede. Em Portugal, este papel cabe exclusivamente à empresa pública MobiE. Nos restantes países, os papéis da EGME são divididos entre PAN, OPCs e agentes de e-Roaming.
    Exemplo: MobiE.
  • CEME - Comercializador de Energia para a Mobilidade Elétrica. Este agente criado pelo regulamento português tem o papel de compra de energia de um comercializador do setor elétrico (CSE) tal como qualquer outro consumidor, e revenda para os utilizadores da rede de carregamento. É responsável também por faturar as sessões de carregamento ao utilizador final a partir dos dados de consumos fornecidos pela EGME. É responsável também por disponibilizar um meio de pagamento ao utilizador, tipicamente um cartão RFID ou aplicação. Este agente com este papel apenas existe em Portugal.
    Exemplo: ViaVerde Electric, Prio.
  • eMSP - Fornecedor de Serviços de Mobilidade Elétrica. Este agente surgiu naturalmente da necessidade de agregar várias redes OPC através de único método de pagamento (e-roaming), e proliferam-se pela UE. Estabelecem contratos com vários OPCs para revender os seus serviços de carregamento, cobrando uma taxa ao utilizador final pelo serviço de conveniência. Em Portugal, o serviço de agregação de redes é prestado em exclusivo pela EGME, sendo que a faturação é feita pelo CEME. No entanto, os CEMEs são revendedores de energia, pelo que não são eMSP puros em Portugal, tal como existem nos restantes mercados. Para um eMSP puro operar em Portugal tal como o faz nos restantes países europeus tem de contratar os serviços de um CEME, mas regra geral apenas traz valor acrescentado para os seus utilizadores estrangeiros.
    Exemplo: ChargeMap, Electromaps, Electroverse.
  • CSE - Comercializador do Setor Elétrico. Toda a rede de mobilidade elétrica em assenta no mercado elétrico tradicional, seja em Portugal ou na Europa. O CSE compra eletricidade aos produtores no mercado grossista (exemplo, OMIE na península ibérica) e revende-a ao consumidor, seja um cliente doméstico, empresarial ou um CEME. Em Portugal, os OPCs não compram energia a um CSE, o CEME é responsável pela revenda de energia de um CSE ao utilizador; por sua vez, o OPC aluga ao utilizador o carregador usado lhe entregar a energia. Nos restantes mercados, os OPCs compram energia a um CSE local e revendem diretamente ao cliente, numa operação verticalmente integrada.
    Exemplo: Luzboa, GoldEnergy.
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