Clarificação ao artigo do Diário de Notícias de 2024-06-22: “Rede europeia de carregamento cresce mais do que os veículos elétricos”

Apesar das garantias dadas pelo presidente da Mobi.E, Luís Barroso, de que Portugal estará bem posicionado a nível Europeu no que toca à densidade de postos de carregamento na rede rodoviária, os dados do Observatório Europeu do AFIR contradizem fortemente essas afirmações. Enquanto se podem dar garantias de distância mínima entre pontos de carregamento nas vias trans-europeias, a sua quantidade está enormemente desajustada à frota circulante. Portugal está inclusivé em risco de ficar aquém dos objetivos de Bruxelas no próximo ano quando se consideram apenas as redes a operar no âmbito do Regulamento para a Mobilidade Elétrica. A AMME alertou muito recentemente para este facto na publicação de título “Portugal na cauda da Europa em Infraestrutura Para Veículos Elétricos”.

O problema das métricas de denominador fixo

Luís Barroso, presidente da MobiE, afirma: “Portugal conta, até à data de 20 de junho, com cerca de 75 tomadas por 100 Km de estrada e 102 tomadas por 100 mil habitantes, o que é considerado um bom indicador, informou a MOBI.E.”. 

A conclusão de que as métricas por 100 km de estrada e por 100 mil habitantes mostram um bom sinal de implantação de infraestrutura de carregamento não tem qualquer possível fundamento. As necessidades de infraestrutura de carregamento não têm qualquer relação com conceitos como a extensão de estradas ou a população do país. Como gostamos de afirmar, as estradas não necessitam de carregadores, quem precisa de carregadores são os utilizadores de veículos elétricos. Qualquer conclusão qualitativa sobre o estado de desenvolvimento da rede de carregamento deve ter por base as necessidades da frota em evolução, e o procedimento para esta análise é estabelecido pelo Artigo 3.1 do AFIR. Este Artigo estabelece, como defendemos, uma métrica com um objectivo concreto para a disponibilização de infraestrutura em função das necessidades dos utilizadores, nomeadamente utilizando o número corrente de veículos elétricos em circulação em cada estado membro. Não existe qualquer relação entre esta métrica e a extensão da rede rodoviária ou a população do país.

A população adere fortemente à mobilidade elétrica, mas a infraestrutura para os suportar tem ficado para trás

Luís Barroso, presidente da MobiE, identifica corretamente a forte adesão dos portugueses à mobilidade elétrica. No entanto, faz projeções de que “Vamos cumprir e provavelmente até ultrapassar os critérios do AFIR, porque a própria dinâmica do mercado dos elétricos vai levar os operadores a instalarem mais postos de carregamento”. 

A AMME não encontra nos dados históricos e no contexto europeu, qualquer evidência de que Portugal está num ponto de inflexão no que diz respeito ao desenvolvimento de infraestrutura. Enquanto, segundo a MobiE, Portugal está menos de 3% acima do objectivo imposto por Bruxelas, a média ponderada europeia situa-se nos 137% a 17 de junho de 2024. O Observatório Europeu para a Infraestrutura de Combustíveis Alternativos coloca Portugal 38% acima do objetivo. Qualquer que seja a fonte, Portugal encontra-se em 25º lugar no contexto Europeu, superando apenas Malta e Irlanda. Portugal é simultaneamente dos países com maiores necessidades de infraestrutura dado o baixo valor de potência disponível por veículo, como também um país onde o investimento público e privado em infraestrutura não acompanha a taxa de adesão à mobilidade elétrica.

Screenshot-2024-06-22-171429

A AMME não encontra qualquer evidência de que estejamos num ponto de inflexão no investimento. A MobiE começou em Agosto de 2023 a incluir publicamente nos seus comunicados de imprensa regulares a taxa de superação do objectivo imposto por Bruxelas. Nessa data, a MobiE colocava Portugal 12% acima do objectivo enquanto em que agora a Junho de 2024 nos encontramos abaixo dos 3%. Se a adesão à mobilidade elétrica se mantiver nos próximos meses e o investimento não aumentar, projetamos que Portugal vai estar em falha perante Bruxelas entre o último trimestre e o início de 2025, conforme mostramos no gráfico abaixo.

 

Screenshot-2024-06-23-141224

 

Voltar para a lista de artigos